sexta-feira, 30 de julho de 2010

SUICÍDIO: Identificar, tratar e prevenir

Suicídio é a trágica e intempestiva perda de vida humana. O mais devastador e perplexo de tudo é que é representado por um ato da vontade.
A palavra suicídio deriva do latim e significa: sui = si mesmo e caedes = ação de matar, isto é, a morte de si mesmo. Os atos suicidas são definidos como comportamentos potencialmente autolesivos com evidência de que a pessoa pretendia se matar. O resultado de um ato suicida pode variar desde a não ocorrência de lesão até a morte. São subdivididos em tentativas de suicídio e suicídio (completo ou exitoso). As tentativas de suicídio são classificadas como sendo com ou sem lesão.

Tentativas de suicídio deveriam ser encaradas com seriedade, como um sinal de alerta revelando a atuação de fenômenos psicossociais complexos. As reduções nos índices de suicídio e de tentativas de suicídio são dois dos objetivos estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde no documento "Saúde para todos no ano 2000” (WHO, 1992).
O grau de intenção suicida de uma pessoa deve ser considerado como um ponto num continuum: de um lado está a certeza absoluta de matar-se e no outro extremo está a intenção de seguir vivendo. A condição sine qua non do suicídio é uma morte em que o sujeito é, ao mesmo tempo, o agente passivo e ativo, a vítima -o desejo de morrer e o desejo de ser morto - e o assassino - o desejo de matar. Na intencionalidade do comportamento suicida deve-se levar em conta:
1. a possibilidade ou impossibilidade de reversão do método empregado para morrer;
2. as providências que tornam possíveis a ação de terceiros;
3. quando esta intervenção ocorre e pode-se inferir que a intencionalidade seja mínima.
Avaliar o grau de gravidade de uma tentativa de suicídio pode ser uma tarefa bastante difícil, pois são atos intencionais de auto-agressão que não resultam em morte, desde atos discretos e velados de ameaça a própria vida, alguns deles talvez com o objetivo de ganhar atenção, até situações graves que necessitam de atendimento médico hospitalar. A noção de que a ideação suicida varia dentro de um continuum, ocorrendo desde idéias não especificadas como “a vida não vale a pena” ou “eu queria estar morto”, para idéias específicas que se acompanham de intenção de morrer e/ou de um plano de suicídio.
A intenção suicida genuína é freqüentemente ambivalente em relação a morte e a firmeza do propósito pode ser variável. Esses pacientes têm humor disfórico, com sentimento de inutilidade, falta de esperança, perda da auto-estima e desejo de morrer.
Há o sentimento de dos três “is”:
intolerável (não suportar);
inescapável (sem saída);
interminável (sem fim).
Suicidas potenciais podem se arrepender e procurar ajuda após o ato. O alívio, após a tentativa, faz a pessoa refletir sobre seu ato.

Identificando intenção suicida:
  • a comunicação prévia de que iria ou vai se matar;
  • mensagem ou carta de adeus;
  • planejamento detalhado;
  • precauções para que o ato não fosse descoberto;
  • ausência de pessoas por perto que pudessem socorrer;
  • não procurou ajuda logo após a tentativa de suicídio;
  • método violento ou uso de drogas mais perigosas;
  • crenças de que o ato seria irreversível e letal;
  • providência finais (conta bancária, providenciar a escritura de imóveis, seguro de vida) antes do ato, afirmação clara de que queria morrer, arrependimento por ter sobrevivido.

Entre os jovens deve-se estar alerta para o abuso ou dependência de substâncias psicoativas associado a depressão, incluem:
  1. tentativa suicida prévia, idéias suicidas;
  2. sentimentos de desesperança;
  3. problemas de abuso de substâncias;
  4. luto;
  5. acesso fácil ao método do suicídio;
  6. falta de apoio social.
Outras situações estressantes habituais na adolescência são as mudanças físicas e psíquicas, busca da identidade e autonomia, e relacionamentos com grupos que favoreçam comportamentos destrutivos:
  • atividade sexual precoce e sem proteção,
  • porte de armas,
  • delinqüências,
  • lutas corporais,
  • tabagismo excessivo
  • intoxicação por álcool
  • pobre gerenciamento da rotina dos filhos por parte dos pais.
Indicativos de repetição de tentativa de suicídio:
  • história prévia de hospitalização por auto-agressões,
  • tratamento psiquiátrico anterior
  • internação psiquiátrica prévia
  • transtorno e personalidade anti-social
  • alcoolismo / drogadição e
  • não estar vivendo com a família.
Fator precipitante:
A intoxicação por álcool é um potente fator no momento da morte.
Três características marcam o ato suicida praticado por alcoólatras deprimidos:
  • a impulsividade da tentativa;
  • aumento do consumo de álcool na véspera;
  • intoxicação alcoólica precedendo a tentativa.
A presença de uma arma de fogo em casa é o mais poderoso fator, principalmente em adolescentes.
Fatores de risco:
Conhecer os fatores de risco auxilia a dissipar o mito de que o suicídio seja um ato aleatório ou que resulte unicamente de sofrimento. O risco de suicídio aumenta com a idade, atinge seu maior nível após os 65 anos. É duas a três vezes mais freqüente em homens que em mulheres. Os divorciados e viúvos são os mais atingidos (quatro vezes mais que os casados), sendo seguidos pelos solteiros (duas vezes mais), os casados são os menos afetados. A proteção oferecida pelo casamento é bem mais importante para os homens que para as mulheres. A gravidez e a maternidade são fatores protetores para as mulheres, embora uma gravidez não planejada, sobretudo na adolescência pode precipitar tentativa de suicídio.
Há uma correlação positiva entre desemprego e suicídio, especialmente entre os homens. Estudos de história familiar mostram aumento de suicídio em famílias com vítimas de suicídio. Níveis cerebrais reduzidos de serotonina ou de seu metabólito, o ácido 5-hidroxi-indol-acético (5-HIAA), têm sido encontrados em vítimas de suicídio ou de graves tentativas. A história prévia de tentativa de suicídio é considerada um forte preditor de suicídio posterior, aumentando em cerca de 40 vezes nestes indivíduos em comparação com a população geral.
Abordagem das tentativas de suicídio:
Consiste nos cuidados iniciais à saúde, se emergência clínica e/ou cirúrgica, assegurar o bem-estar físico, evitando as complicações médicas decorrentes do ato. O médico do pronto-socorro deverá decidir se a vítima deve ser levada para a unidade de terapia intensiva (UTI), para o Centro cirúrgico ou ortopédico, setor de endoscopia ou clínica de queimados, ou as condutas nos casos de envenenamento. Poderá ser encaminhado ao ambulatório de saúde mental ou se deve ser transferido para uma unidade psiquiátrica pela presença de risco ou de transtorno psiquiátrico que necessite de tratamento especializado.
Após o exame clínico usual, devem ser investigados os recursos do paciente: avaliar a capacidade de elaboração, de resolução de problemas, os recursos materiais (moradia e alimentação), o suporte familiar (família próxima ou confiável), social, profissional e de instituições, e os eventos precipitantes: levantar todas as circunstâncias e motivações que deflagraram o ato.
É freqüente a presença de vários fatores estressantes, ou problemas psicossociais crônicos, problemas policiais ou pendência judicial, perda de ente querido, luto, doença física crônica, desemprego, eventos de vida adversos na presença de depressão. Os conflitos interpessoais, como brigas, desentendimentos, separações, podem precipitar 50% das tentativas.
A hospitalização é indicada de acordo com o grau de risco potencial de suicídio, principalmente se o paciente não colabora, apresenta um transtorno mental grave que prejudica a sua crítica frente à situação e não possui uma rede de suporte familiar. Algumas vezes, uma hospitalização precipitada pode ser prejudicial ao paciente frente a uma avaliação errônea do risco de suicídio. Após a escolha do ambiente terapêutico (hospital, ambulatório, domicílio). A medicação adequada deve ser indicada e manuseada por profissionais habilitados com a dosagem, efeitos colaterais e interações medicamentosas, levando-se em conta as condições físicas do paciente, além da idade e peso. Grande vigilância faz-se necessária no início do tratamento com antidepressivos, pois eles demoram dias a semanas para alcançarem efeito terapêutico. O tratamento com eletroconvulsoterapia (ECT) deve ser cogitado naqueles casos graves, com forte determinação para o suicídio. Esse tipo de terapêutica não deve ser visto com preconceito, pois é um tratamento eficaz e seguro para diversos quadros psiquiátricos com risco de suicídio. O seu benefício ao paciente está relacionado diretamente à sua indicação oportuna e adequada, como na cardioversão. Em outros mais leves, encaminhamento para psicoterapia. A família e o paciente devem ser exaustivamente orientados e esclarecidos quanto à proposta terapêutica. Uma internação domiciliar pode ser uma alternativa razoável. Isso é possível quando há baixo risco de suicídio, supervisão disponível e suporte adequado em casa. Os familiares e amigos devem revezar-se na tarefa de vigilância. Sentimentos e comportamentos como choque, confusão, negação, inquietação, regressão, desesperança e estado de alerta são comuns nos familiares.
A vigilância deve ser providenciada com o intuito de garantir a segurança do paciente: 1. retirar da casa medicamentos potencialmente letais, armas brancas e armas de fogo; 2. manter abstinência de álcool e drogas que possuem efeitos desinibitórios; 3. evitar locais elevados e sem proteção, pelo risco de se jogar; 4. evitar que o paciente fique sozinho, ou trancado em um recinto. Pode ser realizado um contrato de "não-suicídio" (verbal ou escrito), que consiste em o paciente concordar em não realizar ato auto-agressão e relatar a um familiar se tiver desejos suicidas.
Prevenção: Dirigem-se à melhora da assistência clínica ao indivíduo que já luta contra idéias suicidas ou ao indivíduo que precise de atendimento médico por tentativa de suicídio; e abordagens que possam reduzir a probabilidade do suicídio antes que indivíduos vulneráveis alcancem o ponto de perigo. “Prevenir é melhor que remediar”.

Comentários Finais

Em termos de tratamento e prevenção do suicídio, é provável que a redução considerável de morbidades psiquiátricas (Transtorno Afetivo Bipolar, Esquizofrenia, Transtorno de dependência à substancias psicoativas, transtorno de personalidade etc) na população deve também diminuir o risco de suicídio. No entanto, dado o pequeno conhecimento sobre o valor preventivo das diversas intervenções existentes e que apenas uma pequena parcela de paciente com risco de suicídio recebem o tratamento adequado.
Os esforços dos dirigentes de saúde pública devem concentrar-se em:

1) Projetos educativos, com o intuito de aumentar o conhecimento público e profissional dos fatores de risco para o suicídio;

2) Melhorar o sistema de saúde, para que possa garantir o acesso precoce a avaliações clínicas adequadas, aumentar a segurança e a efetividade dos tratamentos para os transtornos psiquiátricos com alto risco de suicídio; e

3) Investigações sobre a prevenção de suicídio, as quais através de pesquisas médicas podem esclarecer os benefícios e riscos específicos dos tratamentos médicos e intervenções psicossociais que possam prevenir o suicídio.

O determinismo multifatorial do suicídio impõe-nos, de início, analisar cada fator de risco com prudência. As correlações estatísticas não são as causas; elas nos permitem formular hipóteses de certeza variada. Somente estudo prospectivo de avaliação de métodos de prevenção que procurem resposta para essas hipóteses pode permitir o engajamento de uma adequada política de profilaxia relacionada ao suicídio.

Alexandrina Maria Augusto da Silva Meleiro
Doutora em Medicina pelo Departamento de Psiquiatria da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Curso virtual de Suicidologia

ATENÇÃO ! ! ! !

Aspirantes a suicidologia:

A Asociación Argentina de Prevención del Suicidio inicia turmas para os cursos de:

CURSO VIRTUAL de EVALUCIÓN de RIESGO y POTENCIAL SUICIDA

e

SUICIDIO ADOLESCENTEHOSTIGAMIENTO ESCOLAR (BULLYING) y AUTOLESIONES DELIBERADAS (DSH)

Com o suicidólogo CARLOS MARTINEZ (Licenciado en Psicología U.B.A.· Director General A.A.P.S. · Profesor de Suicidología de la Universidad de Palermo (Argentina) y del Diplomado Internacional en Suicidología (Medellín – Colombia) )

A taxa para os países límitrofes é de 200 dólares com material incluso. O tempo dos cursos são diferenciados e as aulas começam dia 09 DE AGOSTO DE 2010 .
Mais informações:



Lic. Daniela V. Martínez

Coordinadora Cursos Virtuales AAPS

www.suicidologia.org.ar

cursosvirtuales@suicidologia.org.ar

quarta-feira, 28 de julho de 2010

HOMOFOBIA E SUICÍDIO

Esse vídeo é um depoimento de uma mãe que perdeu a sua filha por suicídio pois não aceitou a homossexualidade da filha, principalmente pelo que lhe foi ensinado pela igreja.

Uma história real, muito parecida com a de Bobby (Orações para Bobby) e certamente com a de tantos outros jovens que decidem por acabar com a própria vida por sentirem que não há espaço para si ao lado de Deus e da sua família.

A absurda realidade de uma fé que aliena e mata.

ABP divulga vídeo para prevenção do suicídio




Pela terceira vez consecutiva, a Associação Brasileira de Psiquiatria desenvolve vídeo para levar ao conhecimento do grande público importantes temas relacionados a transtornos mentais. O tema escolhido desta vez é suicídio, num material que apresenta números importantes sobre a problemática e faz parte da campanha “Comportamento suicida: conhecer para prevenir”.

A intenção é esclarecer a população sobre a alta incidência dos transtornos mentais e a importância de procurar ajuda médica. Além do vídeo, ABP também desenvolveu um Manual de Imprensa orientando os jornalistas sobre os cuidados que a mídia deve ter ao relatar casos de suicídio e uma série de outras informações fundamentais para a prevenção.

“Nosso objetivo é discutir alternativas para a ampliação do papel da mídia na prevenção ao suicídio e para o esclarecimento da população”, explica o presidente da ABP, João Alberto Carvalho sobre como os veículos de comunicação podem auxiliar a sociedade no que diz respeito à saúde mental.



terça-feira, 27 de julho de 2010

Suicídio - O último Manifesto.: Reflexões _ Diversos olhares.

Suicídio - O último Manifesto.: Reflexões _ Diversos olhares.

Reflexões _ Diversos olhares.

Antes de mais nada devemos entender que o suicídio é um problema sociológico, inerente à natureza humana, é uma tendência coletiva do organismo social. Simplificando: toda sociedade, em todos os tempos, teve uma porcentagem de suicídios em sua história. Os suicídios ocorrem mais nos lares que nos manicômios, diferentemente do que esperamos, os indivíduos comprometidos mentalmente apresentam um número inferior de suicídios que os “normais”.
Ainda, há um movimento em direção ao isolamento individual que leva à tendência suicida, uma influência desintegradora da individualidade. O suicídio é uma das possibilidades humanas. A morte pode sim ser escolhida, aceita e participativa.
Apesar de todos os contrários a filosofia é, antes de mais nada, a busca da morte e do morrer, é o único absoluto na vida, a única certeza e verdade, o único a priori humano. Sêneca e Jung partilham a idéia que não está pronto para viver quem não está preparado para morrer.
Nem todo suicídio é evidente, um acidente pode ser um substituto do suicídio direto, assim como uma doença auto-imune.
Muitos pacientes podem aparecer com quadros que tendencionam o suicídio: marcas em seu pulso, câncer terminal seguido de dores e falta de perspectivas de não sofrer mais, acidentes, um “chamado ancestral” de histórico familiar de suicídio, luto, perdas...a lista é longa e, muito mais vezes do que se pensa, não há razão racional ou fenomenológica conhecida.
O suicídio rompe o contrato social, desestrutura o entorno do suicida, a única exceção é a insanidade. A lei nos determina viver, a teologia nos ordena viver. Assim o suicídio é uma anomia e também é antiteológico.
A medicina exige a preservação da vida do paciente de qualquer maneira, a análise é um compromisso com a alma, e é nela que se deve procurar a justificativa para o suicídio.
A primeira coisa que um paciente quer de um analista é torná-lo consciente de seu sofrimento e atraí-lo para seu mundo de experiência. O analista é sua testemunha, não está lá para aprovar, condenar, alterar ou prevenir.


Esta é a diferença gritante do médico para o analista, enquanto um está lá para impedir a morte determinantemente e a qualquer custo, o outro, o analista, está lá para compreender a visão da morte na alma. A psicologia se divide em dois aspectos frente a esse fenômeno: um busca compreender pelo lado de dentro, outra tenta explicar pelo lado de fora.
Hillman nos ensina que é preciso encarar o suicídio não apenas como uma saída da vida, mas como uma entrada na morte.
O analista precisa levar a conhecer o assassino interior, quem é essa sombra , e o que ela quer. O suicídio é sempre uma questão individual para o analista e não coletiva como o é para a sociologia e para outras correntes da psicologia. Daí Jung nunca ter se preocupado com classificações, psicodiagnósticos, patologias, a preocupação de Jung sempre foi a alma e essa é única, embora tenha em suas profundezas arquétipos com os quais se relacionar e se manifestar. “Toda análise defronta-se com a morte de uma forma ou de outra”.
“A alma sofre muitas experiências de morte; contudo, a vida física continua; e, quando a vida física chega a seu termo, a alma frequentemente produz imagens e experiências que demonstram continuidade. O processo de conscientização parece ser interminável. Para a psique, nem é a imortalidade um fato, nem é a morte um fim.”.
“A depressão restringe e nos concentra no essencial e o suicídio é a negação final da existência em favor da essência.”
Na perspectiva da psicologia analítica, mortal, finito, é o ego. A alma existe na esfera do atemporal e do aespacial. E é a alma que deseja experienciar o suicídio. O analista deve ter sempre presente em seu espírito que sua aliança não é com o corpo ou com a família do cliente, mas com a alma, ele não pode e não deve negligenciar esse desejo. “Toda vez que o tratamento negligencia diretamente a experiência, enquanto tal, e apressa-se em reduzi-la ou superá-la, algo está sendo feito contra a alma; porque a experiência é o alimento próprio e único da alma”.
É preciso buscar o sentido do suicídio na psique do suicida, é aí que se encontra o seu significado. Mesmo que ele esteja com uma doença grave, com uma decepção amorosa, ou tenha passado por uma perda irreparável, perdido seus bens materiais, a sua honra, ou o quer que seja, devemos entender que com um desses motivos, ou sem motivo algum, a morte pode ser escolhida, e só a alma conhece suas razões.
O ser humano necessita experienciar a morte para entender o mito do significado da própria vida. Essas experiências nos levam a enfrentar questões últimas da existência, é a nossa possibilidade de redenção e de comunhão com o absolutamente outro. A morte orgânica vinda de fora tira-nos essa experiência: “O impulso para a morte não precisa ser concebido como um movimento contrário à vida; pode ser uma exigência para um encontro com a realidade absoluta, uma exigência para uma vida mais completa através da experiência da morte”.

O que a alma busca através das tentativas suicidas é resignificar a vida.


Podemos justificar nossas ações quando essas dizem respeito ao impedimento da liberdade de outrem?

Somos dignos de julgar o suicídio quando estamos tão cegos e surdos à nossa própria alma, que não fazemos idéia do que busca aquele que aborta a própria existência?


Se podemos compreender que sua atitude é decorrência da esfera da alma, e não do orgânico ou do mental, temos meios e equilíbrio para ajudá-lo não negando ou recriminando mas levando-o à realização no campo simbólico?

E, principalmente, estou tão integrado à minha própria alma que posso acessar, através dela, e só dela, a alma do outro?


Na perspectiva da alma o suicídio é o alcance deliberado da plenitude da vida, é o encantamento da alma. Pode, também, em situação extrema, ser por total desencantamento do mundo e de si mesmo, em ambas circunstâncias é um ato de extrema coragem e solidão.
“Conhecer uma história de alma significa capturar emoções, fantasias e imagens, entrando no jogo e sonhando o mito junto com o paciente”.
“À medida que uma análise prossege, desloca-se interiormente da história de caso para a história da alma, isto é, explora os complexos mais por seus significados arquetípicos do que por sua história traumática.”
“Pelo fato de uma história de caso sempre encerrar-se com a morte, ela não pode contar a história inteira. É limitada pelo tempo. Não há seguimento. A alma, porém, parece ter elementos de premonição e transcendência. Para a alma, é como se a morte, e até a maneira e o momento de nela adentrar, fossem irrelevantes, como se isso fosse indiferente, quase como se absolutamente não houvesse morte para a história de alma”.



Ercilia Simone Dalvio Magaldi
Reflexões sobre a obra de James Hillman “Suicidio e Alma”, Jung e Émile Durkheim “O Suicídio”, Sêneca “Sobre a Brevidade da Vida”.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Fatores correlacionados com a tentativa de suicídio

INTRODUÇÃO

O estudo do suicídio e dos fatores associados a esse tipo de comportamento tem interessado a muitos pesquisadores conforme o demonstra a grande quantidade de trabalhos publicados sobre este assunto. É óbvia a importância desses estudos para um melhor conhecimento a respeito desta forma de comportamento de modo a ensejar o desenvolvimento de condições para sua previsão e controle, medidas essas de alcance social e humano indiscutíveis.

Dentre as pesquisas realizadas sobre o suicídio, destaca-se a de Barbosa3 (1974) que fez um estudo descritivo dos suicídios ocorridos no município de São Paulo, durante o período de 1959 a 1968. Nessa investigação, Barbosa indica como variáveis relevantes para a compreensão do fenômeno do suicídio, o sexo, a idade, causas exógenas e variações sazonais.

Além dessas variáveis, outras têm sido indicadas por diversos pesquisadores como relevantes para o estudo do suicídio. Beck e col.6 (1976) apontam a letalidade, ou seja, a gravidade do ato suicida (quão próximo da morte a pessoa esteve) e o grau de intencionalidade da tentativa (a pessoa realmente queria morrer?) como fatores importantes para a compreensão do comportamento suicida. Em outro estudo, Beck e col.7 (1974) verificaram que a presença de bilhete suicida estava associada com maior chance de ocorrerem futuras tentativas.

A saúde do indivíduo também parece estar associada com o acontecimento de atos suicidas (Colson,9 1973). Bebbington5 (1976) indica que a doença pode levar a estados depressivos, principalmente em indivíduos de alta reatância perceptiva (sensibilidade a estímulos internos), que por sua vez pode provocar o comportamento suicida. Bebbington 5 aponta ainda que em indivíduos cronicamente doentes a cura pode levar ao suicídio. Outra variável que examinou em seu estudo foi o tamanho da família do suicida.

Em uma investigação sobre o auto-envenenamento, Alderson 1 (1974) verificou que a taxa desses tipos de suicídios é elevada entre homens idosos e que o maior número de atendimentos envolve mulheres jovens. Outro estudo que também apontou efeitos da idade foi o de Barraclough e Shepherd4 (1976) que indicaram uma relação entre o suicídio e a ocorrência do aniversário em pessoas idosas. Esses autores verificaram ainda a associação do suicídio com o aniversário da morte de entes queridos da pessoa suicida.

Preocupações religiosas podem provocar crises existenciais que podem levar ao suicídio (Andreasen e Noyes,2 1975). Problemas psicológicos e doenças psiquiátricas também estão associadas à ocorrência de suicídio (Andreasen e Noyes,2 1975). O alcoolismo também parece estar relacionado com o comportamento suicida, segundo esses mesmos autores.

Problemas de natureza diversa, de caráter real ou imaginado, geralmente produzem considerável stress psicológico no indivíduo (Morris,10 1973). Quando o stress se associa a uma reação de impotência da pessoa face aos problemas que o motivaram, pode então advir um estado depressivo que em condições extremas poderá levar a pessoa a tentar o suicídio (Barraclough e Shepherd,4, 1976). Uma das causas mais freqüentes do stress psicológico são os conflitos interpessoais (Morris,10 1973). Esses conflitos quando acontecem entre marido e mulher parecem estar fortemente associados com a ocorrência de tentativas de suicídio (Bhagat,8 1976).



José Luiz HeskethI; Archimedes Guimarães de CastroII

IDo Departamento de Psicologia da Universidade de Brasília. Campus Universitário – Asa Norte. 70000 – Brasília, DF – Brasil
IIDo Hospital de Sobradinho. 70400 – Sobradinho, DF – Brasil

ARTIGO COMPLETO:http://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0034-89101978000200005&script=sci_arttext&tlng=pt

Suicídio: saindo da sombra em direção a um Plano Nacional de Prevenção

O suicídio representa um sério problema de saúde pública. Em termos globais, a mortalidade por suicídio aumentou 60% nos últimos 45 anos. Nesse período, os maiores coeficientes de suicídio mudaram da faixa mais idosa da população para as faixas mais jovens. Na maioria dos países, o suicídio situa-se entre as 10 causas mais freqüentes de morte e entre as duas ou três mais freqüentes em adolescentes e adultos jovens. De acordo com registros da Organização Mundial da Saúde, 900.000 pessoas cometeram suicídio em 2003. Isso representa uma morte a cada 35 segundos. Para cada óbito por suicídio, há no mínimo cinco ou seis pessoas próximas ao falecido cujas vidas são profundamente afetadas emocional, social e economicamente.1

O coeficiente de mortalidade por suicídio no Brasil é, em média, 4,5 por 100.000 habitantes ao longo de um ano, considerado relativamente baixo numa escala mundial. No entanto, em certas cidades e regiões, bem como em alguns grupos populacionais (como, por exemplo, o de jovens em grandes cidades, o de indígenas do Centro-Oeste e do Norte e entre lavradores do interior do Rio Grande do Sul), as cifras se aproximam ou superam a de países do leste europeu e da Escandinávia. Os coeficientes de suicídio têm aumentado em nosso país, notadamente entre jovens e adultos jovens do sexo masculino. Outra ponderação: como somos um país populoso, atingimos o nono lugar em número absoluto de suicídios. Os registros oficiais, que devem estar subdimensionados, indicam que houve no país 7.987 suicídios em 2004, o que representou 0,8% do total de óbitos naquele ano. Dentre os que se mataram, 55% tinham menos de 40 anos de idade. Nesse grupo, o suicídio respondeu por 3% do total de óbitos.1

Estima-se que o número de tentativas de suicídio supere o de suicídios em pelo menos 10 vezes. O comportamento suicida exerce considerável impacto nos serviços de saúde e calcula-se que 1,4% da carga (burden) global ocasionada por doenças no ano 2002 deveu-se a tentativas de suicídio. Essa cifra deverá chegar aos 2,4% em 2020.1

O primeiro estudo de base populacional que fez um levantamento sobre a dimensão de idéias, planos e tentativas de suicídio em países em desenvolvimento foi organizado pela Organização Mundial da Saúde, tendo o Brasil como um dos países participantes. Segundo este estudo, na área urbana do município de Campinas, ao longo da vida, 17,1% das pessoas "pensaram seriamente em por fim à vida", 4,8% chegaram a elaborar um plano para tanto e 2,8% efetivamente tentaram o suicídio. As mesmas prevalências ao longo dos últimos 12 meses foram, respectivamente, 5,3%, 1,9% e 0,4%.2

Apesar de o suicídio envolver questões socioculturais, genéticas, psicodinâmicas, filosófico-existenciais e ambientais, na quase totalidade dos casos um transtorno mental encontra-se presente. Uma revisão sistemática de 31 artigos científicos publicados entre 1959 e 2001, englobando 15.629 suicídios na população geral, demonstrou que em 97% dos casos caberia um diagnóstico de transtorno mental na ocasião do ato fatal.3

Em nosso país, até há pouco tempo, o suicídio não era visto como um problema de saúde pública. Entre as causas externas de mortalidade, o suicídio encontrava-se na sombra dos elevados índices de homicídio e de acidentes com veículos, 7 e 5 vezes maiores, em média e respectivamente. No entanto, a necessidade de se discutir a violência, de modo geral, trouxe à tona o problema do suicídio.

Em final de 2005, o Ministério da Saúde montou um grupo de trabalho com a finalidade de elaborar um Plano Nacional de Prevenção do Suicídio, com representantes do governo, de entidades da sociedade civil e das universidades. Em 14 de agosto de 2006 foi publicada uma portaria com as diretrizes que deverão orientar tal plano.4 Dentre os principais objetivos a serem alcançados destacam-se:

1) Desenvolver estratégias de promoção de qualidade de vida e de prevenção de danos;

2) Informar e sensibilizar a sociedade de que o suicídio é um problema de saúde pública que pode ser prevenido;

3) Fomentar e executar projetos estratégicos fundamentados em estudos de eficácia e qualidade, bem como em processos de organização da rede de atenção e intervenções nos casos de tentativas de suicídio;

4) Promover a educação permanente dos profissionais de saúde da atenção básica, inclusive do Programa Saúde da Família, dos serviços de saúde mental, das unidades de urgência e emergência, de acordo com os princípios da integralidade e da humanização.

Antes mesmo da finalização de um Plano Nacional de Prevenção de Suicídio, esperado para 2007, com destinação de verba orçamentária específica, o Ministério da Saúde já lançou um manual de prevenção de suicídio destinado a equipes de saúde mental e uma bibliografia comentada sobre comportamento suicida. Outra publicação destinada ao treinamento de equipes da rede básica de saúde estará disponível brevemente. São boas notícias, que tiram o suicídio da penumbra da negação e do tabu, para encará-lo como um problema de saúde pública.

Há, hoje, considerável informação a respeito do que, em vários países, já foi feito para a prevenção do suicídio, do que deu certo e do que não funcionou.5 Já temos evidências científicas disponíveis; agora é esperar o esforço final da área técnica do Ministério da Saúde, para fazer do Brasil o primeiro país da América Latina a elaborar e a executar ações de prevenção do comportamento suicida.



Neury José Botega
Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria,
Faculdade de Ciências Médicas,
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
Campinas (SP), Brasil

Suicídio e Comportamento Impulsivo-Agressivo

Introdução

O comportamento suicida é comumente classificado em três diferentes categorias ou domínios: ideação suicida, tentativas de suicídio e suicídio propriamente dito . Apesar de que poucos dados são disponíveis, estudos clínicos e epidemiológicos sugerem a presença de um gradiente de gravidade e também de heterogeneidade entre estas diferentes categorias1 Assim, num dos extremos teríamos a ideação suicida - ou seja, os pensamentos, idéias e desejos de estar morto - e no outro, o suicídio completo ou propriamente dito, com as tentativas de suicídio entre estes. A presença de ideação suicida e, principalmente, de uma história positiva de tentativas de suicídio têm sido vistas como tendo um importante valor preditivo na avaliação do risco para suicídio.2-6 Entretanto, uma maior quantidade de estudos, principalmente prospectivos, são necessários para melhor compreender a relação entre estes diferentes tipos de manifestações do comportamento suicida. Nesta revisão focalizaremos principalmente o suicídio completo.



Alguns dados epidemiológicos

A morte através de suicídio é um sério problema de saúde pública. Na maioria dos países, o suicídio se encontra entre as primeiras 10 causas de morte para indivíduos de todas as idades e entre as 3 primeiras causas de morte para indivíduos mais jovens (entre 15 e 34 anos).7 O suicídio é um fenômeno complexo que é provavelmente determinado pela interação de diversos fatores, entre os quais a constituição biológica do indivíduo, sua história pessoal, eventos circunstanciais, bem como o meio ambiente.8,9 A relação entre o transtorno mental e o suicídio já foi bem investigada. Diversos estudos utilizando a técnica de reconstrução diagnóstica conhecida como autópsia psicológica têm indicado que o transtorno psiquiátrico é um dos maiores fatores de risco para o suicídio.10,11 Enquanto o comportamento suicida é bastante freqüente entre a maioria dos grupos diagnósticos psiquiátricos, os transtornos mais prevalentes entre vítimas de suicídio são os transtorno depressivo maior e a dependência ou abuso ao álcool e/ou a outras substâncias psicoativas.12

Várias linhas de evidência sugerem que o denominador comum entre a maioria dos sujeitos que cometem suicídio é a presença de comportamentos impulsivos e impulsivo-agressivos.1,9 De fato, mais do que a metade dos casos que cometem suicídio preenchem critérios diagnósticos para transtornos da personalidade do grupo B, principalmente transtorno da personalidade limite e anti-social, dois quadros caracterizados pela importante presença de traços impulsivos e agressivos.12 Isto é consistente com uma série de estudos que vêm indicando haver, em várias categorias diagnósticas, uma correlação positiva entre a presença de traços impulsivos ou impulsivo-agressivos e a tendência a tentar manifestar o comportamento suicida.13-17

Conclusão

Em conclusão, a participação do componente genético na etiologia do comportamento suicida parece ser considerável. Contudo, parece também ser claro que esta carga genética não é específica ao suicídio propriamente dito, muito menos à psicopatologia subjacente freqüentemente vista nestes casos. De fato, diversas linhas de evidência sugerem que uma série de comportamentos relacionados ao suicídio deva ser considerada de modo a melhor caracterizar-se tanto os próprios fatores genéticos, como outros fatores cujo papel é importante na predisposição a este evento tão trágico.
Gustavo Turecki

LEIA O ARTIGO COMLETO COM TABELAS E TÓPICOS(Genética molecular do comportamento suicida,Genes e suicídio,Aspectos neurobiológicos do suicídio) EM:

Estudo de Modelo de reação familiar pós-suicídio.

RESUMO.

Este artigo é uma contribuição ao estudo do suicídio. Seu objetivo é compreender como familiares de pessoas suicidaslidam com a situação de terem perdido um parente que tirou a própria vida. Respeitados os aspectos éticos, a metodologia utilizadafoi a entrevista não-diretiva com 14 destes familiares, sendo possível reconstruir a experiência pela qual passaram. O resultadodeste estudo foi a proposição de um modelo que descreve a reação de familiares ao suicídio de um de seus membros.
PALAVRAS-CHAVE: família; sociologia da saúde; suicídio.

INTRODUÇÃO
O suicídio sempre foi foco de atenção da área da saúde. Este tema é considerado relevante, devido ao fato de ser uma das formas de violência contemporânea 1. Juntamente com homicídios e acidentes de trânsito, é um dos fatores para compreender a tendência autodestrutiva da sociedade. Em Curitiba, no ano de 2003, ocorreram 88 casos, segundo as Declarações de Óbito da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), o que resulta numa taxa de 5,2 casos a cada 100.000 habitantes.
O suicídio aparece como a resultante de um processo psíquico. Na realidade ele pode ser aproximado de um homicídio transposto: o eu é identificado a um objeto sobre o qual incidiriam
impulsos agressivos; quando o indivíduo tira a própria vida está na realidade aniquilando o objeto em questão 2. Contudo, já na análise do caso Dora, Freud 2 interpreta o fato desta paciente ter escrito um bilhete que foi posteriormente encontrado por seus pais como uma tentativa de provocar um efeito na família, principalmente afastar o pai de um caso amoroso extraconjugal. Isso é apenas um exemplo de que, embora o suicídio incida sobre o próprio
indivíduo, ele também está inserido em um contexto mais amplo.
Dentro da família se desenvolvem três complexos: desmame, intrusão e Édipo 3. Eles podem
deixar marcas no indivíduo e, neste sentido, o suicídio corresponde a tendências regressivas que poderiam ser atuadas em função destas marcas por aquele que investe contra a própria vida.
Por outro lado, para a determinação do ato suicida convergem inúmeros fatores: “Evidentemente, o ato suicida exitoso se constitui no evento final de uma complexa rede de fatores que foram interagindo durante a vida do indivíduo. Por isso não podemos referir-nos à ‘causas’ de um determinado suicídio”

CONTINUAÇÃO:
http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/refased/article/viewFile/7986/5631

Suicídio: "...só vemos a ponta do Iceberg" (Betega)


Se a cada dia cinco baleias aparecessem mortas nas praias, certamente o fato mereceria as capas dos jornais. De acordo com o Sistema de Informações de Mortalidade, do Ministério da Saúde, 9.090 pessoas chegaram ao suicídio no Brasil em 2008, o que corresponde a 25 mortes diárias, mas pouca atenção foi dada ao assunto.

A comparação com as baleias – de uma campanha de prevenção de suicídio australiana, que em vez de “save the whales”, usou o trocadilho “save the males”, referindo-se aos cinco homens que, diariamente, matam-se naquele país – e a crítica ao ofuscamento do suicídio são de Neury José Botega, professor titular do Departamento de Psicologia Médica e Psiquiatria da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A falta de atenção ao assunto, somada a preconceitos e a ideias errôneas, tem agravado a situação que já se apresenta como um problema de saúde pública, de acordo com o pesquisador.

Atitudes simples como maior atenção durante tratamentos hospitalares podem salvar centenas de vidas, segundo Botega. “Os números são apenas a ponta do iceberg, pois, para cada suicídio, estima-se que haja pelo menos 20 tentativas. E, para cada caso de tentativa que atendemos no hospital, outras cinco pessoas, na comunidade, estão planejando e 17 estão pensando seriamente em pôr fim à vida”, disse o pesquisador à Agência FAPESP.

Esses dados estão no artigo Prevalências de ideação, plano e tentativa de suicídio: um inquérito de base populacional em Campinas (SP) publicado na revista Cadernos de Saúde Pública (CSP) da Fundação Oswaldo Cruz.

Ao visitar 600 residências distribuídas em estratos sociais diversos, o grupo de pesquisa de Botega descobriu que o problema é mais amplo do que se imaginava. O estudo levantou que quase um quinto das pessoas visitadas já pensou seriamente em suicídio ao longo da vida.

Para os pesquisadores, essa proporção deve se repetir em outros grandes centros. São números que não aparecem nos dados oficiais. “Basta dizer que apenas uma em cada três tentativas de suicídio recebe atendimento médico”, disse.

No artigo, os pesquisadores alertam que a escassez de dados é um agravante, uma vez que implica menor conscientização dos clínicos e dos gestores de saúde pública em relação ao impacto do comportamento suicida nos serviços da área.

Em 97% dos casos, segundo vários estudos internacionais, o suicídio é um marcador de sofrimento psíquico ou de transtornos psiquiátricos. Em ambos são necessários profissionais de saúde treinados para detectar e tratar adequadamente o paciente durante uma passagem hospitalar, mesmo que essa se efetue por outras razões, como alguém que foi internado por acidente de trânsito, por exemplo.

Segundo trabalhos realizados pelo grupo de Botega, gravidez na adolescência é um dos casos que exigem maior atenção de médicos e enfermeiros, uma vez que um estudo apontou que adolescentes grávidas possuem três vezes mais chances de tentar suicídio. Outros estudos demonstraram que os riscos também são maiores com pacientes que sofrem de epilepsia e com pessoas que dependem do álcool. O que não quer dizer que outros casos também não devam ser considerados, segundo os pesquisadores.

O professor da Unicamp se baseia em dados de estudos que tem coordenado, como “Epilepsia e comportamento suicida na comunidade: um estudo de caso-controle”, realizado de 2006 a 2008, e “Estudos de intervenção breve oportuna no hospital geral”, realizado entre 2007 e 2009, ambos com apoio da FAPESP por meio da modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular.

Investimentos em prevenção

Botega conta que o receio de induzir ao suicídio, ou de ter de carregar uma grande responsabilidade, inibe a maioria dos profissionais de saúde de perguntar ao paciente se ele já pensou no assunto. “É uma ideia errônea. Perguntar sobre suicídio é fundamental para o encaminhamento a um tratamento adequado”, disse.

Além do treinamento adequado dos profissionais de saúde, Botega defende programas simples que podem evitar mortes. O acompanhamento telefônico de pacientes é um deles e sua eficácia foi comprovada no “Estudo multicêntrico de intervenção no comportamento suicida (Supre-Miss), da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, realizado entre 2003 e 2005, também com o apoio da FAPESP.

Inserido em um estudo internacional da OMS, a equipe de Botega conseguiu reduzir em dez vezes a taxa de suicídio entre pessoas que já haviam tentado se matar.

O tratamento consistiu apenas em acompanhar os pacientes por meio de ligações telefônicas periódicas. A experiência foi destacada pela revista Pesquisa FAPESP.

Informar e sensibilizar a sociedade sobre o problema é outra atitude fundamental, de acordo com Botega. “Tirar o suicídio da penumbra é fundamental, é preciso uma comunicação ampla e responsável sobre o assunto”, afirmou.

Com esse objetivo, a equipe de pesquisa da Unicamp publica materiais de divulgação, como folhetos e cartazes, dirigidos tanto a especialistas como ao público em geral, procurando desmistificar o assunto e abordá-lo de maneira aberta.

Segundo Botega, o suicídio não recebe a devida importância no Brasil, mas ocupa o terceiro lugar entre os óbitos não naturais, ficando atrás dos acidentes de trânsito (com quatro vezes mais mortes) e dos homicídios (seis vezes mais).

O Brasil apresenta menos de 6,5 suicídios para cada 100 mil habitantes, o que o deixa entre os países com as menores taxas mundiais. Na maioria dos países europeus, por exemplo, esse número é de mais de 13 mortes para o mesmo número de habitantes.

“O que não quer dizer que a quantidade desse tipo de morte seja pequena por aqui”, disse Botega, “por sermos um país populoso e, também, porque as taxas de suicídio, em algumas regiões e grupos populacionais, se aproximam das mais elevadas do planeta”.

Educação permanente de profissionais de saúde, sensibilização e informação da sociedade e aplicação de programas eficazes de prevenção ao suicídio baseados em estudos científicos são, segundo o pesquisador, a chave para salvar muitas vidas no Brasil.

POR: Fabio Reynol/ Agência FAPESP

sábado, 24 de julho de 2010

Novela Passione e Comportamento Suicida de seus personagens.

Tigor. Este é o nome do participante do Fórum Televisão do UOL que está promovendo uma interessante discussão sobre o suicídio e a mídia tendo como gancho os presumíveis personagens com comportamentos suicidas. Vale a pena seguir o debate!


Veja, a seguir, o texto-base desta discussão:
Alguns personagens de Passione vão desenvolver comportamentos suicidas nos próximos capítulos. Gérson, Fátima e Danilo, são os suicidas de Passione.


Gerson tenta se matar com overdose de remédios, e depois tenta o suicídio também com um revólver e a frente de Diana. Essas emoções estão reservadas para os próximos capítulos.


Se os boatos se confirmarem e Fátima for realmente a filha de Gerson, isso explicará a genética suicida da menina. Em cenas que vão ao ar nos próximos capítulos, o piloto tentará tirar a própria vida depois de receber o pedido de separação de Diana, que também pede para ele tentar controlar seu vício pela internet.


De acordo com a coluna "Sessão Extra", do jornal "Extra", Gerson vai atrás de uma arma para aliviar o sofrimento. Ao ver o filho chegando em casa com um saco preto, Bete desconfia. De tanto procurar por alguma coisa, ela se depara com um revólver embaixo do travesseiro do rapaz.


Achando que o filho estava a salvo, Bete chega em casa com Diana. Ela bate à porta, mas ninguém responde. Mauro arromba a porta e encontra o piloto desacordado e dois vidros de remédios vazios ao seu lado. "Eu te disse: se você me larga, eu me mato", diz ele para Diana após passar algum tempo no hospital e fazer lavagem estomacal.


Vale lembrar que Gerson já havia tentado tirar a vida logo depois de seu primeiro acidente em uma corrida.


Fátima, filha de Gérson e Felícia, é outra com tendência suicida. Após fazer aborto e ter um relacionamento frustrado com Danilo. Fátima vai procurar seu pai biológico com a ajuda de Sinval. Mas a menina muito depressiva e com a cabecinha virada, terá vontade de não viver mais.


Sinval será de grande importância para que Fátima tenha gosto pela vida.


Já Danilo, abandonando o ciclismo após a doping, irá atrás de Clara, que vai usá-lo de todas as formas, até descartá-lo. Após isso, Danilo se afundará nas drogas e pensará em tirar sua própria vida.


O que vocês acham dos personagens suicidas de Passione? E o que vocês acham deste tema, o suicídio?


Para acompanhar clique em http://forum.televisao.uol.com.br/_p_lastpost_17984037_189

sábado, 17 de julho de 2010

SOBREVIVENDO AO SUICÍDIO - Estudo sociológico com famílias de suicidas em Curitiba

Resumo


A publicação de O Suicídio, de Durkheim, foi um marco na teoria sociológica, embora já existissem preocupações com este tema antes desta obra. Após seu surgimento outros autores se dedicaram a continuar este estudo. Via de regra uma abordagem estatística é adotada: busca-se estabelecer correlações entre a taxa de suicídios e outras variáveis sociais. Aqui o suicídio é tratado sob outro enfoque. O objeto de trabalho selecionado são os familiares de suicidas, que normalmente participam da vida da vítima e sobrevivem a ela para contar sua história. O objetivo almejado é, portanto, compreender como estes familiares reagem à perda de um parente que tirou a própria vida. Para isso emprego a entrevista não-diretiva com estes sujeitos. A partir desta coleta de dados foi possível compreender diversos aspectos das famílias onde sobrevêm casos de suicídio. O sentimento de culpa, a interação social com o suicida, as relações de poder e o papel da religião são alguns dos elementos analisados. A hipótese que norteou a pesquisa é que o discurso médico vincula o suicídio à existência de transtornos mentais e encobre outros discursos. Concluo que embora haja vários fatores que contribuem para o suicídio o discurso médico predomina e analiso possíveis razões para que isso aconteça.


Nei Ricardo de Souza Mestrando em Sociologia (UFPR) – nrsouza@yahoo.com
José Miguel Rasia Professor (UFPR) – jrasia@ufpr.br
LINK DO TRABALHO COMPLETO:

Suicídio e Anorexia - aumento de 60% em 50 anos.

Cerca de 780 mil pessoas se suicidam por ano. E o número não pára de crescer - a taxa de suicídios cresceu 60% nos últimos 50 anos. E pior: estima-se que, para cada pessoa que comete suicídio, existem pelo menos outras 20 que tentaram, mas não conseguiram consumar o ato. Esses números são da Organização Mundial da Saúde.

A anorexia é uma das doenças que mais crescem entre a população feminina do mundo. Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) recolhidos em 1999, revelam que nos Estados Unidos uma em cada 100 mulheres de 12 a 18 anos é anoréxica. No Brasil, a proporção cai para uma em cada 250 adolescentes. Uma das causas da doença, segundo a pesquisadora Viviane Loyola, diz respeito à insatisfação das pessoas em relação ao próprio corpo.

Em seu trabalho, a pesquisadora Viviane Loyola teve acesso a dados de dissertação sobre a doença, defendida em 2002, na Faculdade de Medicina da UFMG. A pesquisa médica revelou que, em Belo Horizonte, dos 1.450 entrevistados - alunos de ensino médio de escolas públicas e privadas - 52% sentem-se insatisfeitos com a imagem e 30% fazem algum tipo de dieta. Além disso, cerca de 20% dos adolescentes provocam vômito e 10% fazem uso de diuréticos ou laxantes.

Estes números revelam a imensa carga emocional que as pessoas estão carregando. Frustradas e sem saber gerenciar as “exigências” cada vez mais crescentes da sociedade de consumo, terminam consumidas em sua própria dor. Os dois problemas atingem ricos e pobres, anônimos e famosos, jovens e velhos, numa prova de que a tristeza não encontra limites.

O que fazer? A pergunta não tem uma única ou fácil resposta, pesquisei trabalhos de especialistas de diversas áreas e percebi muitas teorias e abordagens. Acho que no fim, todos estão certos já que cada um a seu modo está empenhado em aliviar a dor destas pessoas.

Não costumo parar e refletir sobre problemas assim, mas os números chamaram minha atenção e decidi compartilhar. Quem sabe assim, mais e mais pessoas comecem a olhar para os lados e quem sabe estender as mãos.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

VIolência Doméstica pode culminar em Suicídio

Electricista espancava a mulher. Anteontem, em Cascais, sequestrou-a durante horas e matou-a. Antes alvejou dois agentes da PSP. Por fim matou-se.

Anos de agressões e maus tratos terminaram na noite de anteontem com a morte de uma mulher e do seu marido, para além de se terem registado ferimentos a tiro em dois agentes da PSP. Foi em Alapraia, concelho de Cascais, que um homem acabou por se suicidar, depois de matar a mulher a tiro e de alvejar, sem gravidade, dois agentes da PSP que tentavam pôr fim a um sequestro de horas.

Tudo terá começado durante a tarde, quando o homem, um electricista de 53 anos, repetindo uma prática antiga, terá espancado a mulher, de 49. Esta terá sido encontrada por uma conhecida, deitada sobre a cama e com diversas escoriações, pedindo às escondidas do marido para que a polícia fosse alertada.

Pelas 20h45 chegaram ao local, na Rua Silva Lobo, alguns agentes da PSP de Cascais que, porém, não conseguiram entrar em casa. O electricista, instado a abrir a porta, mais não fez do que disparar alguns tiros contra os polícias, alvejando um numa axila e outro, de raspão, na face, próximo de um olho. Provocou ainda danos num carro da polícia e numa viatura civil que se encontravam na zona. Com o passar das horas, e porque o homem teimasse em não abrir a porta e em não deixar sair a mulher, os agentes de Cascais solicitaram a intervenção da Unidade Especial de Polícia, cujos efectivos não efectuaram qualquer disparo. Isto porque quando arrombaram a porta da casa, que entretanto fora incendiada, já só encontraram caídos, e com ferimentos de bala, a mulher e o marido.

Extinto o incêndio, foram encontrados um revólver e diversas munições, uma carabina com mira telescópica e uma arma de alarme. O caso está nas mãos da Polícia Judiciária.

84 queixas por dia

A violência doméstica continua a justificar um número elevado de pedidos de intervenção policial. Todos os dias há 84 mulheres portuguesas que apresentam queixa na polícia em consequência de agressões praticadas pelos maridos, namorados ou companheiros.

Em 2009 foram assassinadas em Portugal, na sequência de crimes classificados como violência doméstica, 29 mulheres, ao passo que outras 28 foram alvo de tentativas de homicídio.

As participações anuais relativas à violência doméstica aumentaram em média, desde 2000 e até ao ano passado, em mais de 11 por cento. Tal não significa que este crime esteja a aumentar, mas é um indicador claro de que as mulheres estão a perder a vergonha de denunciar as agressões de que são alvo e a dirigir-se cada vez mais às polícias e às instituições que acompanham estes casos.

Os números de violência doméstica compilados pelo Observatório de Mulheres Assassinadas foram ontem comentados pela secretária de Estado para a Igualdade, Elza Pais, a qual salientou que existem, em todo o país, 544 projectos de combate a este tipo de crime.

A responsável governamental salientou que no próximo ano irá arrancar um plano nacional que compreenderá, de forma articulada, projectos de prevenção, de protecção às vítimas e de condenação dos agressores.

http://www.publico.pt/Local/anos-de-violencia-domestica-culminam-com-homicidio-suicidio-e-dois-policias-feridos_1446673

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Suicídio legal em clinica na Suiça.

Dono de clínica suíça defende direito de doentes mentais a suicídio assistido
Dono da Dignitas falou à BBC em meio a propostas do governo suíço de limitar a prática

05 de julho de 2010 17h 54

O dono da clínica de suicídio assistido suíça Dignitas, Ludwig Minelli, defendeu a política da organização de oferecer seus serviços a pacientes com doenças crônicas e até mentais, como esquizofrenia, e não apenas aos doentes terminais.

A organização já ajudou mais de mil pessoas a morrer nos últimos 12 anos, muitas delas estrangeiros que vão à Suíça porque a prática não é permitida em seus países de origem.

"Como um advogado da área dos direitos humanos, estou convencido de que o direito de pôr fim à vida pertence a cada pessoa que tenha a capacidade de discernimento. A maioria das pessoas que tem doenças mentais tem plena capacidade de discernimento, obviamente", disse Minelli.

Na rara entrevista, ele falou sobre como sua organização funciona, em meio a planos do governo suíço de adotar novas regras para controlar para o suicídio assistido.

"Não há regras estatais, mas nós temos nossas próprias regras", disse ele à correspondente Imogen Foulkes, da BBC, em Genebra.


"A primeira é que nós nunca precipitamos um suicídio assistido, todos os passos devem ser iniciados pelo cliente e não por nós."


Doenças mentais


O médico Alois Geiger, que trabalha para a Dignitas, defendeu também os casos de clientes com problemas mentais que são aceitos pela organização.


"Se você tem uma pessoa que está mentalmente doente, e isso ocorre há anos, nunca melhorando, sempre piorando, uma pessoa que tentou se matar oito vezes, porque não dar a ela a possibilidade de acabar com essa vida horrível? A esquizofrenia é uma doença horrível", disse Geiger.


Ele se referia ao caso de um espanhol de 39 anos que sofria de com esquizofrenia e que morreu há dois anos com a ajuda da Dignitas.


"A maioria das pessoas que vem a mim não diz apenas 'Eu quero morrer', disse. "O que elas falam é 'Eu não quero mais viver essa vida'."


As autoridades suíças decidiram que Geiger, que é especializado em ginecologia, não tem a competência necessária para assistir suicídios e retirou seu poder de dar receitas médicas a doentes mentais.


Minelli e Geiger estão contestando a decisão.


Novas regras


A atual legislação suíça sobre suicídios assistidos é breve e extremamente liberal, permitindo a prática se os envolvidos não tiverem motivações pessoais e não obtiverem lucro.


Mas à medida que organizações como a Dignitas e a Exit crescem, surgem novas questões.


A descoberta de dezenas de urnas contendo cinzas humanas no Lago de Zurique também chamou a atenção para o que exatamente os grupos de suicídio assistido podem fazer.


Não está claro quem colocou as urnas no lago, mas há acusações de que a Dignitas possa estar envolvida já que as urnas levavam a marca do crematório usado pela organização.


O governo suíço apresentou dois projetos propondo mudanças na lei de suicídio assistido - um que proibiria completamente a prática, e outro, com mais chances de ser aprovado, que limitaria o suicídio aos pacientes em estado terminal.


Os pacientes teriam que apresentar provas concedidas por dois médicos independentes de que suas doenças são incuráveis e de que morreriam em meses.


Eles também teriam que provar que fizeram uma decisão informada, tomada ao longo de um período de tempo.


Essas condições acabariam ou mudariam fundamentalmente as práticas da Dignitas, cujos pacientes estrangeiros tipicamente chegam à Suíça, se consultam com um médico da organização e morrem em 24 horas.


Referendo


A imprensa suíça vem alegando que Minelli ficou milionário desde que criou a organização, mas ele se recusa a comentar os aspectos financeiros da Dignitas.


"Essa é uma organização privada", disse ele, que juntamente com outra pessoa (cuja identidade não é conhecida publicamente) é responsável pelo estatuto e pelas contas da organização.


"Apenas os membros ativos têm direito de saber dos fatos, e o público não tem direito nenhum. Nós não estamos trabalhando com dinheiro público, por isso não há razões para respondermos questões", disse.


Minelli afirmou ainda que vai tentar levar as propostas do governo a um referendo, se necessário.


"Eu estou convencido de que temos que lutar para implementar o último direito humano em nossas sociedades", disse.


"E o último direito humano é o direito de tomar a decisão sobre o fim de alguém, e de ter esse fim possivelmente sem risco ou dor." BBC Brasil